terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Inconveniente nº 20

Dos Pretextos e Revivalismos

Após uma larga ausência devido à falta de motivos para criticar, estou de volta para tratar de mais um cliché das nossas vidas amorosas.
Este caso em particular refere-se a um acontecimento recorrente. Quando existem situações pendentes entre duas pessoas, uma delas arranja sempre maneira de tentar criar uma forma de contacto com a outra, mas faz todos os possíveis para disfarçar a situação. A desculpa pode ser qualquer uma, desde os livros emprestados que não foram devolvidos a umas fotografias que não servem para nada, mas que por alguma razão transcendente vieram à memória (esta tem um duplo sentido: é um assalto da onda revivalista de recordar o passado, em todos os sentidos). Seguidamente, segue-se uma conversa em que ambos tentam exaltar a sua situação pessoal (particularmente a profissional e a amorosa), até à altura em que um deles começa a dizer que não quer conversa, que afinal as coisas não estão assim tão resolvidas e ainda não há condições para uma relação amigável, e aí começa-se a entrar no caminho lamacento do "What Went Wrong". Por fim, o utilizador do pretexto lá acaba por confessar que de facto, não está assim tão feliz, afinal a tal namorada nova até é maravilhosa mas é só no papel (ou na janela do messenger), e até gostava de recordar o passado. Obviamente que isto nunca é expressado desta forma: surge sempre por engano, disfarçado por artifícios do estilo "desculpa, fiz de propósito" e outros tipo "mas eu só vim pedir-te as minhas coisas, porque é que estás a implicar comigo e a ver coisas onde elas não existem" (tipicamente masculina, mas se os homens são desapegados, qual é a justificação divina para quererem saber das tais fotos e dos tais livros?)
Ainda de louvar é o timing deste tipo de situações: é sempre antes daquela reunião importante, quando estamos a meio de redigir qualquer coisa com deadline no dia a seguir, na véspera de um exame.. parece uma espécie de conjecturação astral para nos impedir de focar a nossa concentração naquilo que realmente interessa e nos tirar o sono.

Meus queridos leitores: o que há a concluir aqui, é que não somos só nós, as mulheres, que não esquecemos: os homens conseguem ser ainda piores a esquecer. Simplesmente, disfarçam melhor. Porque afinal de contas, um homem não chora... à frente dos outros.

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